21 de nov. de 2006

Há muito tempo atrás...


No tempo em que os homens viviam ainda em cavernas, havia um ritual: ao cair das noites, todos se reuniam em volta de uma fogueira para contar suas histórias, reais ou imaginárias, compartilhando sentimentos, emoções e experiências com o grupo. Nos dias atuais, vivemos de forma bem diferente e a realidade é outra: temos carros, aviões, televisão e internet, porém, as histórias jamais deixaram de exercer o seu fascínio sobre as pessoas. Seja criança ou adulto, não há quem não goste de passar a noite em uma roda de amigos a contar "causos", ou até mesmo ao telefone ouvindo as experiências relatadas por outro. Os tempos mudaram, mas a necessidade de compartilhar experiências, ouvir de outro algo que fale ao nosso coração, permanece! Com isso, constatamos que as histórias jamais perderam a sua importância. Até hoje, sempre que alguém senta para contar uma história, pratica a deliciosa arte de abrir as portas da imaginação.

Mundo encantado

Costumo dizer que contar histórias é doar o que se tem de melhor no coração, pois cada história contada é como um presente que oferecemos ao outro e este, muitas vezes, vem embalado como um presente mesmo, com caixinha e tudo! Esta "embalagem" pode ajudar a suscitar o imaginário e despertar a curiosidade do ouvinte para o que virá a seguir.
Ao pronunciarmos as palavras "era uma vez" é como se adentrássemos um novo tempo, espaço e lugar. Estas e outras palvras usadas para introduzir uma história são como um convite. Costumo chamá-las de chaves de portal, pois creio que é assim mesmo que estas palavras funcionam: têm o poder de nos transportar para o universo do maravilhoso.
O ato de contar histórias funciona para o contador de histórias como os dois lados de uma moeda: é preciso estar bem consigo para conseguir transmitir este bem estar, assim como ao contar nos sentimos melhores. Há a troca de energias com o ouvinte e cada um sai melhor da experiência de encantamento que é o contar e ouvir histórias.
Histórias alimentam a alma e preenchem nosso mundo interno com elementos fantásticos. Assim como é necessário alimentar, dar de beber, vestir e cuidar da criança, é preciso alimentar também sua alma e matar a sua sede de fantasia.
Há ainda aqueles que já estão crescidos e não contam histórias, ou receiam se deixar levar, se envolver com seus enredos fantásticos. Nestes casos é preciso experimentar, sentir ou até mesmo receber um "empurrãozinho", como em Peter Pan que, ao convidar Wendy a ir com ele à Terra do Nunca, esta lhe responde que não pode ir, pois não sabe voar. Peter, então, pega a sua mão e olhando nos seus olhos diz:
"Não tenha medo, venha comigo que lhe ensinarei a navegar nas costas do vento".

Minha história com as histórias

Minha história com as histórias é um namoro antigo, cultivado ao longo da minha vida.
Não posso dizer com precisão quando começou, mas lembro-me que na adolescência eu ainda me deixava transportar para o mundo das histórias através do programa Contos de Fadas da TV Cultura, depois como aluna do magistério entrei em contato com as crianças ao realizar meus estágios, foi nesta época que comecei a arriscar algumas histórias e técnicas.
A partir daí, passei a experimentar uma deliciosa sensação ao observar o brilho no olhar e a expectativa pelo que virá a seguir na história que está sendo narrada.
Na Faculdade de Psicologia conheci diversas teorias que me ajudaram a entender melhor o mundo infantil descortinando-se para mim o universo da pesquisa como forma de responder aos inúmeros questionamentos surgidos nas histórias do dia-a-dia.
Após me formar em Psicologia ingressei no curso de Pedagogia, onde pude dar continuidade a este trabalho de investigação. Tive então, condições de direcionar e estruturar alguns aspectos dessa busca de compreensão pela "magia" que envolve as crianças ao ouvir histórias.
E os questionamentos não pararam mais de surgir para mim como pistas de um grande mistério a ser desvendado.
Hoje sou professora universitária e em meu trabalho com os alunos do curso de Pedagogia as histórias pedem para ser contadas e, como não poderia sufocá-las, passei a contá-las para adultos mesmo! Com isso, novos questionamentos estão surgindo em relação ao poder das histórias, ficando em mim a certeza de que esta história está apenas começando...